A DIMENSÃO HUMANA TEM QUE OCUPAR A RUA


Em rápida síntese entre dois grandes arquitetos famosos podemos concluir:
Oscar Niemeyer, arquiteto carioca, idealista de projetos no mundo inteiro, principal profissional no desenvolvimento da cidade de Brasília, única cidade construída no Século XX a ser tombada como patrimônio artístico e cultural pela UNESCO. Ao criar suas obras, prioriza a forma em detrimento da funcionalidade. O homem se adequa a ela.
Jan Gehl, arquiteto dinamarquês, foi planejador urbano e mudou a cara de Copenhague na década de 60, por coincidência período da inauguração da nova Capital Federal brasileira(21/04/1960). Usava um conceito bem simples, mas raro e objetivo: pensar primeiro nas pessoas. A forma segue o movimento e as necessidades humanas.
Jan Gehl fez a nova Times Square, em alusão ao centro comercial da cidade de Nova York. Tirou os carros e colocou gente. Não tem nenhuma construção monumental.
Entre os dois conceitos, o que tem prevalecido em Brasília é um terceiro. O pior de todos: privilegiar o uso carro em detrimento ao pedestre. Os moradores, apesar das extensas áreas projetadas para os veículos, cada vez mais, vivem atrás de encontrar mais e mais lugar para os carros. Eles mandam nas cidades e nos tiram a mobilidade.
Precisamos urgentemente conectar as pessoas. Quem deve mandar em Brasília não são os arquitetos e urbanistas.  São as pessoas. O poder público se perdeu na burocracia, no anacronismo, na legislação feita para não fazer. Não conduzimos nem somos conduzidos. Vamos indo.
Temos que sair dessa roubada. Senão a gente vira coisa. A dimensão humana tem que ocupar a rua. Que tal começar pelo conserto das calçadas?

A falta de conexão entre os edifícios vizinhos na quadra é uma das características que pode ser observada em todas as edificações de Brasília. A falta de continuidade nas calçadas pode ser apontada como um fator que desestimula fortemente o pedestre a se locomover pela cidade, preferindo o carro para se deslocar ao invés de caminhar. Destacam-se algumas ideias:
1)Fazer a conexão entre os edifícios residenciais e comerciais da quadra como também entre os edifícios comerciais entre si. Esta simples estratégia proporcionará uma sensação de segurança ao local principalmente após o fechamento do comércio, no momento em que a localidade se torna vazia.
2)Implantar postes com iluminação gerada por placas fotovoltaicas para todas as áreas públicas como também no trecho da ciclovia que passa entre o parque e as quadras.
3) Construir calçadas e rampas com pisos drenantes adaptadas de forma a acomodar com conforto os pedestres e ciclistas. 
4)Criação de faixas para pedestres com acessibilidade para as calçadas que conduzirão os pedestres a todas as edificações da quadra e arredores.
5) Todas as áreas sem edificações existentes nas quadras devem possuir benfeitorias de forma a permitir a interação humana, as trocas econômicas e o bem-estar da comunidade.  Projetados na escala humana, com dupla finalidade para os cidadãos: cinema ao ar livre, área de exposição de arte, mercado de artigos produzidos pelos moradores locais, feiras preferencialmente nas horas em que os restaurantes estiverem fechados, mantendo a quadra movimentada.
6) Piso das novas áreas em pavers(bloquetes) assentados diretamente sobre o solo com contenções laterais para evitar o deslizamento dos blocos.
7)Uma pequena horta e atividades lúdicas de baixo custo e ecológicas priorizadas para crianças nas áreas públicas: rede, balanço, casa na árvore, mesa de concreto para jogos de xadrez e ping-pong.
8)Estimular os moradores da quadra a colocarem vidros duplos em suas janelas de forma a eliminar o barulho da rua para que o movimento noturno dos bares e restaurantes no local não os incomode. É muito importante manter o uso misto (comércio e moradia) no local para mantê-lo vivo, pois com movimento em todas as horas do dia e noite os locais se tornam mais seguros.
9)Utilizando o conceito de espaços semi-públicos, que são as calçadas em frente aos prédios, e as áreas entre eles, realizar intervenções que possam chamar as pessoas a interagirem no espaço (bancos, pequenas mesas, vasos com plantas ou até bicicletários. Elementos que fornecem beleza, luz ou que interagem com quem transita naquele espaço acabam por trazer mais movimento ao local.
10) Calçadas alargadas e com acessibilidade, iluminação urbana qualificada para criar mais segurança permitirá cada vez mais   que pessoas se encontrem, sentem e desfrutem da quadra inteira, e não só do comércio.
11)No paisagismo, priorizar o plantio de vegetação existente no cerrado com placas para conscientizar a população. O outro objetivo do plantio será o baixo custo de manutenção.
12) E finalmente difundir o uso de fontes de água incentivando atividades lúdicas com captação da água das chuvas para utilização nas fontes e irrigação dos jardins.
*Angela Sicoli
Economista, corretora de imóveis(CRECI-DF 13483).   e Designer de Interiores - moradora da SQSW 102 Bloco E (Setor Sudoeste-Brasília-DF)
*Marcelo Sicoli  Síndico do Centro Clínico Sudoeste(Brasília-DF),  premiado no Brasil e no exterior. Articulista de vários jornais e websites, consultor internacional e corretor de imóveis (CRECI-DF 20576).  Conselheiro do CRECI-DF. E-mail: sindicoccs@outlook.com whatsapp: (61)98250-8656

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