Da União pela seleção para a guerra nas eleições
Por Marcelo Sicoli*
Escrevo um dia depois da eliminação do Brasil na Copa do Mundo da
Rússia. De volta para o trabalho e fim de festas brincavam piadas do whatsapp. Reportagens publicadas na
mídia ressaltavam o desinteresse recorde dos brasileiros pela competição. Com
tons de ironia, borbulhavam comentários comparando o País do penta com nações
sem grandes feitos futebolísticos. Detentores, porém, de altos índices de
desenvolvimento humano (educação, saúde, qualidade de vida), além de alta renda
per capita. De baixo mesmo têm o nível de desemprego. A paixão inocente pelo
time brasileiro do passado perpassa um filtro menos romântico agora. Jogadores,
outrora tidos como heróis nacionais, têm seus salários exorbitantes
denunciados. Isso denota o quão grotesco é o salário do brasileiro comum. Este,
muitas vezes, em uma vida inteira de trabalho não vai conseguir acumular um
infinitésimo do que é o rendimento de alguns craques em uma única temporada de
trabalho. Eles são contratados pela Europa e Oriente Médio por verdadeiras
fortunas.
Viajei, recentemente, à Europa e na minha perspectiva de síndico de
condomínio e consultor de empresas ficaram marcados alguns pontos. Por exemplo,
Lisboa cidade linda que é, causa sensação gostosa ao permitir comunicação
plena. Muitos brasileiros têm sonhado em se mudar para lá ou têm investido
capital no país lusófono. Síndicos brasileiros devem se arrepiar com a visão
dos varais de roupa em área externa das janelas. Um costume português. Roupas
penduradas podem ser vistas mesmo em bairros tradicionais de alto padrão de
vida. Da arquitetura convencional do antigo centro passa-se em curta caminhada
à renovada zona oriental da bela capital portuguesa. A região foi inaugurada em
1998 para EXPO. Conta com prédios modernos, shoppings, restaurantes, hotéis, cassino
e aquário enorme. No verão europeu, a noite chega por volta das 22h. Em
Brasília, às 18h já está escuro. Interessante é ouvir que “o evento ocorrerá às
20h da tarde”!
Madrid e Aguilas, na Espanha são cidades belíssimas. No entanto, lá
tive momentos de subdesenvolvimento digamos. Foi o caso de passeio em trens da
estatal RENFE. Não apenas os trens saem com atraso expressivo (20 minutos ou
até uma hora e meia) da capital espanhola, como provocam aglomerado de pessoas
buscando por informações em monitor bastante pequeno para a quantidade de
clientes. Os avisos são dados com apenas 5 minutos de antecedência, tempo curto
para transitar de uma plataforma à outra. Não é difícil “perder o bonde”! Ao
longo de dezenas de paradas que ligam uma cidade à outra, os monitores internos
não informam coisa alguma. Não há sequer informações sonoras. As compras de
passagem online são inacreditavelmente ineficientes tanto pelo aplicativo de
celular quanto website. A compra nas
máquinas não é das melhores também. Em viagem de avião interna, com escala em
Barcelona, para minha frustração, uma famosa empresa aérea espanhola extraviou
minhas bagagens! Só foi possível recuperá-las quatro dias depois. Detalhe:
apesar de devidamente etiquetadas (dados pessoais) não tiveram ao menos a
delicadeza de me telefonar informando. O website
disponível para realizar rastreamento não provê acompanhamento em tempo real.
Mesmo que as malas sejam encontradas, você não receberá aviso. Tampouco terá
acesso a informações atualizadas no website.
Desse modo, fica a indagação... para que mesmo servem tantos códigos de barra e
etiquetas? Em outra companhia aérea europeia de baixo custo, no balcão do check-in mesmo sem filas, somos
informados de um valor adicional de 55 Euros para embarcar (R$250). Porém, no
momento da compra isso não é especificado. O website da companhia também NÃO OPERA, às vezes, para realização do
procedimento. É mesmo uma pegadinha sem-graça. Consiste-se em tarifa altíssima
para poucos minutos de trabalho do atendente. Ou seja, em muitos sentidos, a
Europa não apresenta o nível de profissionalismo e de respeito ao consumidor
que imaginamos. Concluo que, o Brasil tem algumas cidades e empresas bastante
eficientes. Prédios residenciais e corporativos de alto padrão estrutural. A
maioria deles é muito bem administrada. Por isso, temos muitas coisas boas que
devem sim ser valorizadas. Empresas inspiradas e competentes, apesar da famosa
dificuldade regulatória e da elevadíssima carga tributária. Sem falsos ufanismo
e modéstia, podemos ser a grande potência que está sempre latente. O governo
tem papel preponderante e central. Desse modo, há necessidade de expressivas
mudanças no serviço público, especialmente, em relação ao tamanho da máquina
estatal que ensinam seu alto custo e ineficiência. É ponto crucial, portanto,
as Eleições de 2018. Após a união em torno da seleção canarinho, prevejo que
estas eleições serão marcadas por ambiente hostil, com muita divisão social em
torno da política. Infelizmente, estaremos distantes de um clima de “fair play”(jogo justo), como nunca antes
visto. Que os brasileiros cada vez mais conscientes dos problemas históricos a
serem enfrentados promovam mudanças importantes no cenário político.
*Síndico do Centro Clinico Sudoeste(Brasília-DF), premiado nacionalmente e internacionalmente.
Consultor internacional e corretor de imóveis. E-mail: sindicoccs@outlook.com
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