Atuação dos CRECIs nas crises estaduais*
Quebrando paradigmas
Já
nos primeiros dias da crise climática histórica que atinge o Rio Grande do Sul,
instaurada em maio de 2024, nos perguntamos: O que os CRECIs e seus corretores
de imóveis podem fazer? Em uma visão
imediata pensamos que as autoridades públicas e forças armadas darão conta de atender a população em estado de
vulnerabilidade. No entanto, a presente mobilização da sociedade civil tem se
mostrado de crucial importância como força auxiliar ao Estado. Dessa forma,
traremos a seguir reflexões acerca da atuação dos CRECIs em situações de
desastres que impactam diretamente a população civil.
Os
CRECIs são os Conselho Regional de Corretores de Imóveis. Criado oficialmente
em 1962, o órgão surgiu para regulamentar e fiscalizar a atividade dos corretores de imóveis e
imobiliárias de forma a trazer transparência e lisura a esse ramo empresarial.
Hoje, todos os 27 estados brasileiros possuem
um conselho regional localizado nas respectivas capitais e delegacias
regionais nos principais municípios de sua jurisdição.
Como
autarquia pública federal, segue normas bem rígidas de atuação e controle
externo (CGU, TCU, Ministério do Trabalho etc).
Além das atividades regulamentares, estes CRECIs desenvolvem
treinamentos e palestras, ações sociais, atividades esportivas, clube de
benefícios e convênios para seus inscritos em todo o Brasil.
No
flagelo gaúcho e em outras catástrofes naturais ou calamidades públicas como
por exemplo acidentes em usinas, rompimento de barragens, incêndios, enchentes,
acidentes aéreos ou navais, epidemias, grandes correntes migratórias como em
Roraima, crises de abastecimento ou mesmo a retomada do fantasmas de guerras
regionais ou mundiais, toda esta
capilaridade (presença em todos estados) e um efetivo de 600 mil profissionais
cadastrados em todo Brasil, podem a partir de seus próprios estados intervir
positivamente em todo território nacional.
Exemplificamos:
além da atuação de baixa criatividade e esforço de simplesmente repassar contas
para depósitos em dinheiro de prefeituras ou entidades privadas destinadas ao
apoio da população e reconstrução das cidades destruídas, o segundo nível seria
ativamente coletar mantimentos e roupas para subsequente transporte direto ou
mesmo repasse para forças de segurança que normalmente o farão. Registramos que
em Brasília, filas de carros se formaram na Base Área em conexão com a
divulgação por parte da Aeronáutica neste sentido e o expressivo quantitativo
arrecado.
Auditórios
dos CRECIs podem ser cedidos para reuniões da sociedade civil e autoridades
públicas envolvidas na assistência da calamidade.
Um
terceiro nível, mais avançado e mais específico, refere-se a avaliação de
imóveis danificados como feito em 2023 pelo CRECI-SP no município de São
Sebastião, em São Paulo. Peritos avaliadores voluntários emitem laudos, de
forma gratuita, para encaminhamento para seguradoras ou órgãos públicos que
eventualmente arcarão com reparos ou indenizações. Esta etapa entra em ação
depois que a fase mais crítica de resgates e assistência básica já cessaram.
Porém,
de forma inédita no Brasil, e que se pode ser feita no estouro da crise, é a reunião de informações junto as
imobiliárias e corretores locais dos imóveis naquela região disponíveis para
ocupação e obviamente não localizadas nas áreas afetadas. Estes profissionais
seriam instados a cadastrar em determinado portal/aplicativo, casas,
apartamentos, imóveis rurais ou galpões industriais/logísticos para instalação
temporária de autoridades públicas (policiais, bombeiros, militares, médicos,
veterinários etc) de outros estados que se deslocam para região de crise para
prestar assistência ou mesmo para os milhares de desabrigados e infinitos
animais de pequeno e grande porte. Por
curto período, acreditamos que muitos proprietários disponibilizariam seus
imóveis gratuitamente ou por custo bastante reduzido. Porém, naturalmente a
iniciativa já deveria ser desenhada antecipadamente. Como diz o ditado:
“Telhado se conserta durante dias de sol”.
No tocante a experiências internacionais do campo militar, veio à mente, as grandes bombas de drenagem da Água do Mar pelo exército israelense a fim de inundar túneis usados por grupos radicais. Equipamento parecido, deveria ser desenvolvimento e aperfeiçoado por empresas brasileiras e subsequente compra/aluguel por Estados ou Governo Federal, sendo de grande valia para a drenagem de áreas específicas como rodovias estratégicas, aeroportos e hospitais. Enchentes no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Acre e Rondônia, ou mesmo acidentes em empresas mineradoras como em Mariana e Brumadinho em Minas Gerais são exemplos recentes.
No
mais, analistas com viés conspiratório, apontam que as cidades fantasmas da
China, onde dezenas de gigantescos prédios foram finalizados e até hoje nunca
ocupados, tem a finalidade de funcionar como uma reserva técnica de emergência
no caso de calamidades climáticas, pandemias ou guerras onde milhões de pessoas
serão forçadamente deslocadas e realocadas em curtíssimo período de tempo.
Paralelo
ao inflamado debate da iminente terceira guerra mundial, surgem notícias de multimilionários
envolvidos em construções de grandes bunkers subterrâneos com autonomia de
meses sem contato com o mundo exterior. Há até condomínios de apartamentos nos
EUA com estrutura de bunker sendo comercializados. Será que a tendência chega
no Brasil?
*Leonardo Santos, Vice-presidente do CRECI-DF e perito avaliador.
E-mail:
peritocapital@gmail.com Instagram: @leonardosantos.corretor